domingo, 1 de junho de 2008

Tudo azul

Li hoje no jornal que o Viagra já é um dos cinco medicamentos mais vendidos do Brasil, ao lado de ícones como Neosaldina, Tylenol e Dorflex.

O lance é que pro homem foi criada uma pílula pra melhorar sua performance sexual. A indústria não só se preocupou com a performance do homem criando esse medicamento, como ainda criou os congêneres do Cialis e Levitra (que nominho, hein? podia se chamar "Subrindo" ou "Crescendor", e até "Durex" se já não fosse marca).

Mas e pra mulher? O que tem pra auxiliar a mulher a chegar ao orgasmo? Nada. Nadinha, necas de pitibiribas. Na verdade, a maior parte das mulheres raramente tem orgasmos, e isso independente da idade ou da configuração biológica da mulher.

Uma pesquisa que li - vai no chutômetro, mas deve ser aproximado à realidade - estimava que 30% das mulheres nunca tiveram um orgasmo. Das 70% restantes, 65% tinham orgasmos raramente, e umas 5% com frequência.

E cadê a pílula do orgasmo feminino? Não tem. Mesmo com esses números chocantes e frustrantes, a mulherada não tem alternativa nenhuma pra gozar melhor, e nem pra meramente gozar.

Na verdade o próprio assunto do orgasmo feminino é visto com desdém pela maior parte das pessoas. Pode ver: os religiosos dizem que é pecado a mulher gozar - sendo que o gozo masculino é necessário pra transportar os espermatozóides; a ciência não estuda o assunto; a educação não ensina a mulher a conhecer seu corpo nem a estimula-lo; e a pornografia é tão ruim quanto os demais, por dar uma ênfase absurda à ejaculação masculina e não dar a mínima pro orgasmo feminino. A mulher nos filmes pornôs se limita a agir como puta, ter um corpo legal e gemer de prazer e satisfação quando é fodida e quando recebe aquele mingau de maizena na cara no fim da cena.

Mas gozo que é bom, nada. Quer dizer, tem exceções, como as atuações incríveis da Debbi Diamond, da Careena Collins, e o chuveirinho que é hoje a Flower Tucci. Mas em 99% dos filmes isso é ignorado completamente.

Careena Collins, orgasmática pornô quarentona formada em direito.

Os estudiosos do Viagra chegaram até a ver como a pílula azul agia na mulherada, mas sem resultados satisfatórios.

E aí, com toda essa tecnologia e liberação de hoje, continuamos a encenar os papéis sexuais do feudalismo, da Idade Média, com o orgasmo masculino sendo preocupação central da ciência, da saúde e da pornografia, refletindo a própria atuação sexual do homem, e o da mulher esquecido, reprimido, ridicularizado.

E isso que a mulher tem 3 tipos de orgasmos: o clitoriano, o vaginal e o ejaculatório, que é obtido pela junção dos dois anteriores. O homem tem dois, o peniano e o prostático, mas só usa o primeiro, que é o protagonista de toda a vida sexual da nossa sociedade.

A reportagem que eu li dizia que em casais idosos as mulheres se sentiam mal com o desempenho dos companheiros pós-Viagra. E com razão: o homem continua na pole-position, e a mulher fica na mão. Isso, quando consegue acertar a mão e sabe como fazer.

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