segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Boa Notícia!


Pra quem não se lembra, Margareth Thatcher foi a primeira-ministra da Inglaterra durante o fim dos anos 70 e anos 80. Enquanto nos EUA o liberalismo econômico selvagem do Reagan fodia com os pobres e fazia chamego pros ricos, na Inglaterra era a mesma coisa com a Maggie. Ela cortou vários direitos sociais dos ingleses, aboliu o salário mínimo, privatizou uma pá de empresa, reprimiu duramente uma greve nacional dos mineiros, e foi intransigente com a Argentina no triste episódio da Guerra das Malvinas, contribuindo, com o lixo dos generais argentinos, pra morte de centenas de jovens soldados britânicos e argentinos.

Ela cumpriu um papel bacana nos anos 80, que foi ser a inimiga número um dos punks ingleses. Enquanto nos EUA o inimigo apontado em músicas era o Reagan, na Inglaterra era a Maggie, crucificada tanto pelo Crass quanto pelos toscos do Exploited.

Então, a notícia boa é que ela está louca. Isso mesmo, pirou, tá falando com os espíritos, despirocou, não tá batendo bem. De acordo com sua filha, ela está com demência . Não lembra das coisas. Um caso de justiça poética, digo eu.

Antigamente ela estava cagando e andando pros pobres e pros trabalhadores. Agora ela continua cagando, andando, e se esquecendo. Uma minúscula satisfação pra todo mundo que ela fodeu.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Transsexuais no Irã

"SER COMO OS OUTROS (Be Like Others) – Mostra Gay

O Islamismo orgulha-se de ser uma religião capaz de oferecer solução para todas as angústias de seus fiéis. Nem que seja uma solução final. No Irã, desde há 25 anos, os homossexuais “diagnosticados” têm uma saída supostamente honrosa, e apoiada oficialmente: mudar de sexo. O grau de homofobia é tamanho que mesmo alguns transexuais ostentam seu ódio aos gays. Como o sexo anal é considerado pecado e desonra supremos, os homossexuais mais aparentes, quando não se suicidam (33% o fazem, segundo diz um médico no filme), submetem-se a brutais cirurgias para escapar ao apedrejamento ou à prisão pela Polícia Moral.

Esse é o quadro brilhantemente descortinado por Ser como Os Outros, doc rodado em Teerã por Tanaz Eshaghian, uma iraniana radicada em Nova York desde os seis anos de idade. Ela passou 45 dias com seus personagens sem enfrentar nenhum tipo de oposição das instâncias oficiais. O assunto não é tabu, uma vez que se trata de “corrigir um erro de Deus” – como define uma autoridade clerical – ou curar uma doença, como assume um transexual bem-sucedido. “Mudar de sexo não é pecado, assim como não há nada de mau em transformar o trigo em pão”, compara um clérigo. As pessoas operadas ganham estatuto de renascidos, com direito a nova certidão de nascimento.

A lógica muito particular dos iranianos no trato com o tabu da homossexualidade aparece não em informações frias e genéricas, mas diretamente no drama de jovens, no momento mesmo em que são atirados nesse beco-sem-saída e na interrelação com amigos, namorados e familiares. Boa parte do filme se passa no consultório ou na sala de espera do Dr. Mir Jalili, um especialista que já fez cerca de 500 operações nos dois sentidos. Outro tanto se passa no espaço doméstico dos personagens, onde os dilemas se tensionam até o limite da indiscrição.

É notável o acesso da diretora a esse universo tão íntimo. E o Irã se confirma mais uma vez como laboratório privilegiado do cinema direto contemporâneo, dada a disponibilidade das pessoas para serem observadas por uma câmera aparentemente inexistente. Ou, quando se trata de quebrar essa quarta parede, isso se faz com uma tal naturalidade que nada se perde da suposta “transparência”. Mas o filme também recorre a delicadas entrevistas e absorve exemplarmente o recurso da reportagem alheia. É quando uma jornalista da rádio estatal vem ao consultório do Dr. Jalili para conversar com seus pacientes e não faz mais que confrontá-los com sua visão fundamentalista dos gêneros e da sexualidade.

Vencedor do Prêmio Teddy (temática homossexual) no Festival de Berlim, Be Like Others alterna cenas de uma transgressão inimaginável para uma sociedade islâmica e momentos profundamente comoventes de desalento e solidão. Quando retoma alguns personagens meses depois da cirurgia, desvenda novo cenário de angústias e incertezas para as quais o Alcorão, ao que parece, não tem mais respostas a oferecer."

Copiei e colei daqui e o texto é da autoria de Carlos Alberto Mattos.