terça-feira, 24 de março de 2009

Europeus dirigindo e brasileiros bebendo cerveja.

Acho que uma das provas mais óbvias de um emburrecimento geral do mundo são os comerciais de hoje. A impressão que passa é que eles são feitos por imbecis para cretinos, tão rasas são as idéias.

Podemos dividir os comerciais em alguns tipos básicos: comerciais pra donas de casa, que são suaves e tradicionais e querem vender produtos pro lar; comerciais pra mulheres em geral, que são de cosméticos ou perfumes e passam uma idéia de poder, atração e beleza; comerciais pra crianças, que usam cores, músicas e vendem qualquer porcaria com um bichinho engraçadinho ou uma promoção odiosa; comerciais pra família, que são de carros, planos de saúde e seguros, e têm aquelas famílias de gente branca se abraçando ao som de alguma música em inglês gravada por músicos brasileiros; e comerciais pra homens, que parecem um filme do Vin Diesel e geralmente dão a idéia de que qualquer porcaria que você usar vai atrair mulheres, desde um carro ou um desodorante até um refrigerante.

São os "targets" ou alvos como o povo de publicidade chama. Ok, eu sei que a publicidade sempre foi isso aí, de escolher alvos e mandar uma mensagem de um modo que atraia o alvo. Mas a burrice de quem faz publicidade hoje em dia é irritante, é demais.

Todos os comerciais - menos os de cerveja - dão a impressão de que não estamos no Brasil. As pessoas são brancas, não tem baianos, japoneses, negros, nada. Os lugares são lindos, floridos, apartamentos ou casas grandes. Tá, vender a idéia da prosperidade faz sentido no raciocínio de vender o produto junto. Mas porquê gente tão branca, tão norte-americana ou européia? Até as trilhas dão essa idéia, tudo em inglês.

Parece que esses publicitários têm vergonha de serem brasileiros ou de venderem a idéia de que os produtos são brasileiros ou se destinam a brasileiros. E também não querem associar seus produtos ao público pobre, negro, mestiço. Mas eles vendem pra quem então?

Ah - vão dizer - mas isso é um reflexo da cabeça do brasileiro. Mas desde quando a cabeça do brasileiro é essa? E o que que molda essa cabeça, o que define os gostos? A publicidade exerce um papel sim nisso aí, mas parece que se põe numa posição meio cômoda de dizer que não faz parte do problema, só reflete o problema. Isso não cola.

Os comerciais de cerveja são outra história. Muito brasileiros. Mas brasileiros no sentido escroto da coisa. Sempre que eu vejo um comercial de cerveja eu penso que quem fez foi a turma do fundão do 2o-B. Ou então que foi o pessoal do Centro Acadêmico da Facu. Porque o nível de humor é esse, é de "cara zoeira". Tem musiquinhas, tem mulheres, tem até uns pretos - porque na cabeça do publicitário preto toma cerveja e tem um apelo de malandragem que cola bem com a idéia de beber cerveja. E esse apelo de malandragem é um híbrido escroto demais, é uma mistura de Lei de Gérson - ter vantagem em tudo - com socialização forçada - beber faz você ser aceito e fazer parte de uma comunidade. Uma comunidade muito seletiva, a propósito, que custa R$ 2,00 pra entrar.

Eu acho que essa vergonha de ser brasileiro e essa exaltação do brasileiro malandrão enturmado são meio que frutos do descaso com a educação. As duas abordagens pra vender produtos são respostas fáceis, são um referencial fácil pra passar uma idéia. Fácil pro cretino do publicitário que manda a mensagem e fácil pro imbecil do consumidor que recebe a mensagem.

O mundo hoje é de facilidades, obviedades, uma linguagem cheia de estereótipos que facilitam a comunicação mas carregam idéias nelas que grudam até serem aceitar como verdades.

Pensando bem, a publicidade sempre foi essa merda. É o mundo na verdade que está mais desarmado pra se defender dela.

2 comentários:

Unknown disse...

Essa galera tem "nojo de Brasil".

Unknown disse...

Ah, a Isadora o André têm seus blogues:

http://stuffidotlike.blogspot.com/

http://www.dietermandarin.blogspot.com/