sexta-feira, 10 de abril de 2009

Brasil vira Credor pelo FMI


Os jornais de ontem e hoje estão noticiando que o Brasil passou à categoria de financiador no FMI, ou seja, ao invés de pedir e obter empréstimos, vai passar a conceder empréstimos.


O Ministro da Economia, Guido Mantega, disse que serão disponibilizador US$ 4,5 bilhões de dólares pra isso.


Faz sentido que o Brasil, querendo deixar de ser país emergente e querendo provar que é potência econômica pro exterior e pros brasileiros - não esqueçam que estamos às vésperas de eleições no ano que vem.


Mas esse sentido é absurdo se pensarmos que esse dinheiro colocado à disposição de outros países poderia estar sendo usado aqui, pra educação, saúde, melhores serviços públicos. Essa quantia é alta, e não acho que estejamos num momento de prosperidade interna tão grande a ponto de poder emprestar pra outros países dinheiro que é nosso e devia ser usado pras nossas situações urgentes e emergenciais.


Nada contra emprestar a outros países, isso é necessário em muitas situações, na ótica capitalista realista mesmo. Mas não precisamos ser nós a emprestar esse dinheiro. É que nem alguém que está com a própria casa podre, cheia de infiltrações e com o perigo do teto desabar, emprestando dinheiro pra outras pessoas.


Infelizmente o governo Lula acaba querendo fazer propaganda de prosperidade econômica pra ganhar apoio da classe média no Brasil. Esse tipo de manchete faz com que as pessoas pensem que a situação econômica está boa, e que o PT não é tão ruim assim. Mas que se dane o que a classe média pensa ou quer. A urgência aqui é fazer justiça social, dar chances e serviços públicos pra quem precisa deles, e não fazer teatrinho pra conseguir a aprovação dos ricos.


E outra: o FMI é um fundo econômico direcionado pras políticas neoliberais de enfraquecimento do estado e liberação da iniciativa privada - isto é, de redução do controle dos governos sobre o que as empresas fazem - e acusado de ser dominado em suas decisões pelos EUA, justamente o país onde a vontade popular menos apita contra a vontade dos ricos e poderosos. É preocupante nos aliarmos a essa visão de mundo e de sociedade, e a esse organismo nada democrático.


Parece que o Brasil do Lula quer dizer pra todos que somos que nem os ricos e poderosos. Ruins e egoístas que nem eles.

Um comentário:

Unknown disse...

Ruy, acho que essa questão é bem mais complexa do que o que você colocou aí. Fora essa coisa óbvia marqueteira, virar credor do FMI tem muito mais a ver com poder internacional - se tornando credor do FMI o Brasil passa a ser capaz de poder pegar dinheiro emprestado sem precisar se condicionar a um receituário anexo. É isso o que acontece com os países desenvolvidos.

Os nossos problemas são muito mais estruturais do que emergências, e um dos elementos dessa estrutura é justamente a subordinação do país a essas instâncias internacionais como o FMI. Como não dá para virar as costas para o fundo sem romper com tudo, o melhor a fazer é inverter os termos da equação, o que vai ao encontro da proposta do Lula naquela "carta aos brasileiros" dele.

Outro aspecto é que esse dinheiro não é a "fundo perdido", o Brasil se torna, como qualquer acionista de banco, passível de receber os dividendos de sua participação nos lucros do banco, e a gente sabe como emprestar dinheiro é lucrativo.

Não entenda mal, não estou querendo justificar essa política econômica do gov. Lula, só acho que as coisas são mais complexas.