quarta-feira, 24 de setembro de 2008

O Nevoeiro

Fui assistir recentemente "O Nevoeiro" (The Mist - e não, não é a banda de metal de BH), baseado numa estória do Stephen King.

Quando meus amigos disseram que era baseado no Stephen King eu já fiquei meio assim. Sei lá, pensei, o cara tem um monte de série na TV, toneladas de estórias filmadas, uma pá de livro, deve ser um filme bunda. Mas como quem me recomendou foi muito enfático na qualidade do filme, acabei indo assisti-lo.

Ainda bem que venci meu preconceito (e é preconceito mesmo, um lance meio novidadeiro besta - porque o cara escreve faz décadas então a produção dele é ruim? Ponto negativo pra mim...)

O filme é fodido! Fodaço! Desesperado, angustiante, assustador, surpreendente, e trágico. Incrivelmente trágico. Não vou estragar o clima de quem for assistir, mas aqui bem que podia ser utilizada aquela frase da entrada do inferno do Dante Alighieri: deixem aqui toda a esperança vocês que entram.

A trama se desenvolve numa pequena cidade americana onde um nevoeiro, vindo de uma base militar, toma a cidade. Mas antes disso, várias pessoas estão reunidas num supermercado comprando mantimentos, acreditando que se trata o nevoeiro do prenúncio de um furacão. E quando o nevoeiro chega essas pessoas ficam presas no supermercado, submetidas a estranhos acontecimentos.

O que rola fora do supermercado não é explicado até o meio do filme, o que aumenta a angústia. Só s sabe que há coisas lá fora, que machucaram uma pessoa e que fazem com quem saia no nevoeiro não volte mais.

É esse medo do desconhecido que gera o maior pavor do filme: a reação das pessoas presas no supermercado. Diante de uma situação limite as pessoas acabam fazendo opções filósoficas, políticas e comportamentais mais radicais, no sentido não de extremas, mas de próximas àquilo que realmente, no fundo, as motiva. Assim o povo preso no supermercado mostra o que tem de melhor e o que tem de pior no desenvolvimento da crise.

O melhor é a atuação do protagonista, um pai de família quarentão que está no supermercado com seu filho. O pior é o crescimento da influência de uma maníaca religiosa cristã, que vê nos acontecimentos um sinal da ira divina.

Daí em diante a situação vai se polarizando cada vez mais, e mesmo com monstros assustadores rondando o supermercado, o medo maior é das pessoas que estão lá dentro umas em relação às outras.

O final do filme é pior que um chute no saco. É como se alguém colocasse o saco num daqueles moedores de carne antigos, que eram fixados numa mesa. É a desgraça completa, a perdição absoluta, o questionamento visceral sobre quem somos e como reagimos com o que acontece, e o preço que se paga por isso.

Eu fiquei chocado, e adorei o filme.

Aqui um trailer chupinhado do Youtube:

4 comentários:

Menezes, o cretino disse...

Porra, o trailer me deixou curiosão pra ver esse filme. Ainda tá nos cinemas?

Sobre o lance neoliberalismo, eu lembro de um velho conhecido nosso (que ganhou seu apelido por causa do zine que escrevia) fazendo uma crítica sobre uma decisão tomada em razão de parar a venda por preços abusivos em um evento que era comum a todos nós. Lembra disso? A coisa tomou forma na internet, como não poderia deixar de ser.

O negócio é que ele criticava essa decisão como se fosse algo totalmente neo-liberal, citava até a "mão invisível do mercado", quando era justamente o contrário.

Mão do Macaco disse...

Sim, sim, eu me lembro desse lamentável episódio. E o que é pior, a figura em si se dizia socialista, defensor do povo, dos oprimidos. E muita gente dessa laia é isso mesmo, desde que não tenha a ver com seus interesses. Exatamente como no caso dele.

Essa mão invisível do mercado é tipo uma divindade grega, babilônica ou egípcia, um deus humano, caprichoso e vingativo, que só aparece ou age quando quer. Porquê pra cuidar dos mais pobres, dar mais direitos aos trabalhadores, a mão está sempre fechada. Mas pra dar uma forcinha pros empresários, obter a aprovação de um acordo ou uma lei, essa mão tá sempre disponível...

Dani disse...

Gostou da dica, né?
O filme é foda, o final me deixou boquiaberta, sem nem ter o que comentar por alguns minutos.
E dizem que o conto original não tem final e esse foi criado para o filme, e ficou excelente. Aliás, o Stephen King gostou bastante do resultado.

Mão do Macaco disse...

Pô, mas valeu muitão pelo toque! Não sabia do lance do conto original ser diferente, vou ver se acho pra ler.